
No Dia Mundial do Transtorno Bipolar, comemorado
nesta quinta-feira (30), o psicólogo, psicoterapeuta e professor do
Instituto de Educação Médica (Idomed), Denis Coelho, recomenda que a pessoa com
suspeita do distúrbio procure ajuda profissional especializada em saúde mental,
com psiquiatras, psicólogos ou mesmo um atendimento
multiprofissional.
“Os profissionais habilitados vão saber se realmente a
pessoa está com transtorno bipolar. Digo isso porque muitas pessoas procuram
diagnóstico informal, em fontes como o Google, e isso pode ser perigoso,
fazendo com que ela fique cada vez mais ansiosa e alerta em relação ao seu
problema”, disse ele.
A data coincide com o aniversário do pintor holandês Vincent
Van Gogh, que foi diagnosticado, postumamente, como provável portador desse
distúrbio. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o
transtorno afetivo bipolar atinge atualmente cerca de 140 milhões de pessoas em
todo o mundo.
Essa condição causa mudanças extremas de humor, que podem
variar de períodos de euforia e hiperatividade a outros de depressão
profunda. Pesquisa feita pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos
Estados Unidos verificou que pessoas diagnosticadas com transtorno bipolar
têm expectativa de vida reduzida em até nove anos, comparadas com a
população em geral. Segundo revelou também o estudo, a taxa de suicídio entre
indivíduos com transtorno bipolar é cerca de 20 vezes maior do que na população
em geral.
Tratamento
Denis Coelho informou que o tratamento para pacientes com o
transtorno envolve psicoterapia, medicamentos ou os dois combinados.
Explicou que dentro do espectro do transtorno bipolar existem depressões
ciclotímicas que dificultam o diagnóstico. Daí não se ter a noção precisa
de quantos pacientes existem com essa condição no Brasil, embora o país esteja
entre os que apresentam maiores índices de ansiedade e de esgotamento físico e
mental no trabalho.
Além de medicamentos e psicoterapia, a pessoa deve incluir
no tratamento mudanças no estilo de vida, como praticar exercícios
físicos, ter dieta equilibrada e evitar o consumo de álcool e drogas.
“Eu sempre digo para os meus pacientes que o tratamento tem aspectos biológico,
mental, social e espiritual. Biológico, porque envolve cuidar do seu corpo de
forma integral, com exercícios físicos e boa alimentação; mental, sempre com
bons pensamentos e tentando ter bons sentimentos; social, buscando
manter bons relacionamentos, que não sejam abusivos ou tóxicos; e espiritual,
no sentido de a pessoa acreditar em algo que possa, realmente, levá-la a sair
de uma situação ‘xis’ para uma condição melhor”. Destacou que esses elementos
vão interferir positivamente no tratamento, na medida em que diminuem a
sensação de estresse e ansiedade e alterações de humor, aumentando a sensação
de prazer.
Diagnóstico
Segundo o Ministério da Saúde, o diagnóstico de transtorno
bipolar costuma ser difícil e pode demorar, em média, dez anos para ser
estabelecido devido a “tratamentos equivocados, ausência de comunicação entre
os profissionais envolvidos, desconhecimento sobre como a doença se manifesta,
tanto por ser pouco conhecida quanto pela confusão dos seus sintomas com os de
outros tipos de depressão, além de preconceito e autoestigmatização”. O
ministério indica que o histórico do indivíduo pode contribuir para o
diagnóstico conclusivo, já que alterações de humor anteriores, episódios atuais
ou passados de depressão, histórico familiar de perturbação do humor ou
suicídio e ausência de resposta ao tratamento com antidepressivos
sinalizam transtorno bipolar.
Comportamentos repetitivos e exagerados acendem o alerta
para o transtorno bipolar. “Quando o indivíduo começa a perceber que a sua vida
não está ocorrendo da forma mais saudável como ele gostaria de estar. Ou seja,
quando está tendo prejuízo na funcionalidade da vida, na forma de produzir, de
se relacionar com os amigos, com a família. Quando o próprio sujeito é a
primeira pessoa a sentir que algo não está funcionando bem”, afirmou o psicólogo.
Coelho esclareceu que as variações extremas, como manias,
exaltação, comportamentos de compulsão, estão entre os sintomas desse tipo de
transtorno: “a pessoa ficar horas, ou mesmo dias, acordado; fazer compras
compulsivas; ter compulsão por alimentação ou por prática sexual.
Qualquer hábito ou comportamento que venha caracterizar exagero ou compulsão”.
Outro polo é a depressão, quando a pessoa tem queda de
humor, de produtividade. “Quando esses estados estão em desequilíbrio e mostram
momentos de pico exagerados, sejam de euforia ou depressão, constituem forte
sinal de que a pessoa deve buscar ajuda, ou seja, quando esses polos são muito
díspares, as diferenças são muito claras e ocorrem em períodos sucessivos.
Geralmente é assim. O paciente vive experiência de euforia muito forte e depois
vem a queda, com depressão”.
Sem cura
O Ministério da Saúde destaca que transtorno bipolar não tem
cura, mas pode ser controlado. A adesão ao tratamento pode trazer importantes
resultados, entre os quais redução das chances de recorrência de crises;
controle da evolução do transtorno; diminuição das chances de suicídio; redução
da intensidade de eventuais episódios; e promoção de uma vida mais saudável.
Denis Coelho chamou a atenção também para a necessidade de a
sociedade entender que o transtorno bipolar é uma condição médica real, que
requer tratamento para ajudar no controle dos sintomas e melhorar a qualidade
de vida.
Fonte: Agência Brasil
Foto: Marcelo
Camargo/Agência Brasil