
Em 2020, aproximadamente 4,1 milhões de hectômetros cúbicos
(hm³) de água, correspondentes a 4,1 trilhões de metros cúbicos, foram
retirados do meio ambiente no Brasil pelas atividades econômicas e pelas
famílias para uso próprio e distribuição. Cada hectômetro cúbico equivale a 1
milhão de metros cúbicos.
Desse volume, a atividade econômica eletricidade e gás foi a
que mais contribuiu para o volume total de retirada. A explicação é a grande
quantidade de água turbinada pelas hidrelétricas e a participação majoritária
delas na geração elétrica brasileira. No mesmo ano, a participação da
hidroenergia na retirada atingiu 85,1%. No entanto, apesar de o volume de água
captado pela atividade ser, em sua maior parte, utilizado, há também o
retorno na mesma quantidade e qualidade, o que é chamado de uso não consuntivo.
A retirada total de água inclui a que ocorre para
atendimento próprio, como também a captação para fins de distribuição.
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (2) pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na terceira edição da
pesquisa Contas Econômicas Ambientais da Água: Brasil - 2018 a 2020, realizada
em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
Conforme o pesquisador responsável pelo levantamento no
IBGE, economista Michel Lapip, como a matriz energética brasileira é baseada
principalmente em hidroenergia, os volumes de água necessários para gerar
energia elétrica são enormes. Para o funcionamento das turbinas, as águas saem
das barragens ou do leito do rio e depois da geração de energia retornam aos reservatórios.
“Essa água que passa nas turbinas é considerada água
retirada por mais que ela seja devolvida, o que é considerado uso não
consultivo. A água retirada é devolvida para o meio ambiente na mesma
quantidade, mas não deixa de ser uma retirada”, explicou em entrevista à Agência
Brasil.
Ainda em 2020, na atividade esgoto e atividades
relacionadas, a retirada representou 0,9% do total. O volume equivale à coleta
de água da chuva escoada pelas redes pluviais que, segundo o IBGE, foi
registrada com volume igual tanto em retirada quanto em retorno ao meio
ambiente. A pesquisa indicou que as famílias foram as que mais usaram água de
distribuição (59,4%) e serviços de esgoto (59,8%). No ano, o uso per
capita de água pelas famílias ficou em 117,5 litros diários
(litros/habitante/dia).
Já o total captado somente nas retiradas de águas
superficiais e águas subterrâneas pelas atividades econômicas para uso
consuntivo, alcançou 71,2 mil hm³. Nesse caso, a atividade com a maior
participação na retirada foi a agricultura, pecuária, produção florestal, pesca
e aquicultura (58,2%).
“Diferentemente da atividade de eletricidade e gás, esse
setor tem o consumo da água e não devolve toda para o meio ambiente. Também é o
setor que mais consome entre as atividades econômicas. Essa é uma
característica recorrente”, disse o economista.
Na sequência ficaram as atividades de captação, tratamento e
distribuição de água (27,9%) e de indústrias de transformação e construção
(8,4%).Conforme o conceito da ANA, o uso consuntivo é o que retira água do
manancial para destinação a áreas como a irrigação, utilização na
indústria e o abastecimento humano.
Adição
Com 56,2%, a água da chuva foi a principal forma de adição
ao estoque total de água do Brasil em 2020, que alcançou 24,9 milhões de
hectômetros cúbicos. Em sentido contrário, a redução do estoque de água no
mesmo ano ficou em 25,9 hm³. A saída de água (46,8%), que pode ser para o mar,
para outros países ou para outros recursos do território, foi a maior
participação no total.
A Região Norte teve 87,1% de participação na entrada de água
para o estoque do país e foi a que mais contribuiu para o total. “O Norte,
dentro da Amazônia, tem quase toda a reserva de água do Brasil” - a região tem
maior contribuição na entrada, mas a menor retirada.
Por regiões, o maior uso per capita (144,3 litros)
ficou com o Sudeste, enquanto o menor uso foi no Norte, com 78,7
litros por habitante/dia. “Considerando ainda as famílias, a participação do volume
de esgoto coletado pela rede de esgotamento sanitário em relação ao volume de
água usado é maior, em 2020, na Região Sudeste, com aproximadamente 71%”.
revelou a pesquisa, destacando que a na Região Norte, “apenas 16% da água
utilizada pelas famílias, aproximadamente, retornaram ao meio ambiente por
meio da rede de coleta”.
O pesquisador informou que não é possível fazer comparação
com a edição anterior, porque houve mudanças metodológicas, na medida em que a
ANA melhorou o modelo das informações com relação a estoques. “A metodologia
mudou e o grau de precisão das estimativas está maior. Por isso, a gente não
fez a comparação”.
Os movimentos climáticos de seca e abundância de chuva podem
influenciar os estoques e retiradas de água, além dos desempenhos das
atividades. “Se a chuva for demais, estraga a agricultura e o contrário
ocorre quando há escassez de chuva. O setor de hidroenergia vai gerar
menos e acionar mais as termoelétricas”, comentou.
Dados econômicos
A pesquisa mostrou que também em 2020, a cada R$ 1,00 gerado
pela economia do país havia o consumo de 6,2 litros de água. Indicou ainda
que o valor adicionado bruto (VAB) da atividade econômica água e esgoto somou
R$ 48,2 bilhões e que o valor da produção de água de distribuição e serviços de
esgoto ficou em R$ 74,5 bilhões. Nesse total, a participação da água de
distribuição atingiu 65,7%. O custo médio da água utilizada na atividade
agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura chegou a R$
0,11/m³, “levando-se em conta os perímetros públicos de irrigação (PPI)”,
completou o IBGE.
Pesquisa
De acordo com o IBGE, as Contas Econômicas Ambientais da
Água: Brasil apresentam indicadores físicos e monetários sobre a oferta e
a demanda de água no país com resultados para as cinco grandes regiões: Norte,
Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste - e o Brasil.
Fonte: Agência Brasil
Foto: Caio Coronel/Itaipu